O filme indiano “Maja Ma” é uma produção que foi lançada no ano de 2022. Contando com uma duração de 134 minutos, a obra tem Anand Tiwari na direção, além de um elenco composto pela maravilhosa Madhuri Dixit, Simone Singh, Ritwik Bhowmik, Barkha Singh, Srishti Shrivastava, Gajraj Rao e Sheeba Chaddha. Saiba mais aqui no Cinemarte.
Sinopse de “Maja Ma”
Pallavi Patel é uma esposa exemplar, muito querida não apenas em seu próprio lar, mas também na comunidade onde vive, sendo muito conhecida por sua habilidade na dança e também em termos de culinária. Seu filho Tejas Patel ficou noivo de uma garota rica e a família da moça irá conhecer a dele. Contudo, em meio a visita dos pais da noiva à casa dos Patel, um rumor sobre Pallavi ameaça não só abalar a família, mas também o noivado do filho.
Inteligente, belo e bem construído
Aos poucos, o número de filmes indianos que abordam temáticas LGBTQIA+ cresce, ajudando a tornar o assunto cada vez mais visível, mais debatido e, por conseguinte, com chances infinitamente maiores de desconstruir preconceitos e ampliar o apoio a essa minoria.
É um filme longo, com pouco mais de 2 horas de duração, algo que é bastante comum no cinema indiano. Entretanto, em nenhum momento e de forma alguma o filme se torna chato, maçante ou enfadonho. Muito pelo contrário: ele consegue prender a atenção, manter o interesse do espectador firme e forte e, tão importante quanto, sem perder o ritmo, sem decair a qualidade da narrativa.
Como é também bastante comum nas produções de Bollywood como essa, o filme conta com as clássicas cenas de música, de canto e dança. E isso é feito de forma tão orgânica em Maja Ma que mesmo o espectador que não está acostumado com as produções bollywoodianas não irá estranhar tanto e irá apreciar bastante, ainda mais pelo fato de que a protagonista é famosa por suas habilidades na dança e também porque festas ali ocorrem, tornando tudo mais “natural” aos olhos de quem não está acostumado com Bollywood.
Tudo começa com Tejas Patel (Ritwik Bhowmik) muito apaixonado por Esha Hansraj (Barkha Singh), uma moça de família abastada. Eles querem se casar e Tejas está nervosíssimo pelo fato de que vai conhecer seus sogros. Tejas vai passar por um polígrafo, o que é bizarro, pois seu sogro quer verificar se ele está casando com sua filha por amor mesmo ou por interesse. Ele obviamente passa no teste, por ser alguém íntegro e que ama de verdade sua noiva.
O próximo passo então é a família de Esha conhecer a família de Tejas. Isso deixa Tejas nervoso, pois os sogros são rigorosos.
Um elemento interessante de Maja Ma é que a filha de Pallavi e irmã de Patel, Tara Patel, é uma moça que optou por fazer uma graduação e por sua pesquisa científica ser na área de estudos queer e de gênero. Tara tem um papel bem interessante e bastante pedagógico na obra, pois, mais do que ser uma mulher heterossexual aliada da luta LGBT, é uma ferrenha defensora da comunidade LGBT, que inclusive participa de protestos e projetos que visam apoiar essa comunidade.
Isso é deveras interessante e importante, pois foi um forma do filme Maja Ma mostrar didaticamente que não é preciso ser uma pessoa LGBT para defender os direitos e as pessoas dessa comunidade, que não é preciso ser da comunidade LGBT para compreender, respeitar, considerar e abraçar essa comunidade, essa causa.
Tara e Tejas tem uma pequena briga, que acaba respingando em Tara e Pallavi. Nessa discussão entre mãe e filha, Pallavi acaba revelando para a filha Tara que ela é lésbica. Bastante surpresa, Tara fica encucada por pensar que a mãe sofreu e sofre há tantos anos por estar “no armário”.
Durante um momento de festividade, é exibido um vídeo com imagens das pessoas que vivem ali e, sub repticiamente, é exibido um vídeo que mostra o momento em que Pallavi confessa a filha que é lésbica. Alguém provavelmente gravou e o responsável pela exibição do vídeo malvadamente editou para exibição.
Isso causa um tremendo frisson no local, na família, nas pessoas daquela comunidade. A priori, busca-se negar veementemente o fato e tenta-se remediá-lo.
Nesse processo de tentar “remediar” a situação, Tejas faz algo absurdo e terrível: sabendo que a mãe é de fato lésbica e temendo de maneira absurda e egoísta que isso pudesse afetar seu noivado, leva a mãe para um “curandeiro”, que supostamente ia realizar a “cura gay” em sua mãe, assim como tal charlatão supostamente faria com outros ali na fila.
A cena foi genialmente construída, de forma a deixar completamente explícito e claro do quanto essa ideia de “cura gay” é ridícula e absurda, bem porque ser LGBT não é uma doença nem nada do tipo.
Nesse ínterim, Tara levou a mãe para um centro de apoio a pessoas LGBT, com o intuito de ajudar a mãe a “sair do armário” e viver sua vida de forma plena. Pallavi resiste, mas ouve atentamente a dirigente da unidade dizer que pode procurá-la caso precise de apoio se for se assumir.
Esse é outro ponto muito interessante de Maja Ma, pois, mais uma vez, o filme mostra didaticamente que a escolha de se assumir é inteiramente da pessoa LGBT; é ela que escolhe o quanto, o como, para quem e quando irá se assumir ou mesmo SE irá se assumir.
Cada um saber o que é melhor para si no seu contexto e ninguém tem direito de tirar outra pessoa fora do armário. Certamente que “sair do armário” pode ser muito benéfico não apenas para a pessoa em si, que não precisa ficar mais sufocada escondendo quem é, mas para as pessoas LGBT em geral, pois tornar as coisas visíveis e abertas comprovadamente ajuda as pessoas a conhecerem melhor e reduzir o preconceito.
Ao descobrir que seu antigo amor e amiga está com câncer, Pallavi se sente motivada a se abrir sobre sua sexualidade. Seu núcleo familiar imediato, incluindo o até então marido a apoiam.
Maja Ma é um filme bastante bonito. Ele é bastante pedagógico e didático, o que não é um demérito no caso dele, ainda mais levando-se em consideração o contexto do cinema indiano.