Se tem uma série maravilhosa, alucinante, impecável, com uma história sensacional, é a série Killing Eve. Até então, Killing Eve contava com 3 temporadas, todas, a meu ver, igualmente incríveis.
Aliás, esse sempre foi um dos maiores trunfos da série: manter o seu nível de qualidade e coerência ao longo das temporadas. Sendo assim, a expectativa de um gran finale era enorme.
Contudo, não foi bem o que ocorreu. Na realidade, não foi nada do que ocorreu. De fato, a series finale de Killing Eve foi um grande fiasco, decepcionando muitos dos fãs (incluindo eu).
Como a series finale de Killing Eve pôs tudo a perder
(Atenção, muitos spoilers a partir daqui)
Sem sombra de dúvidas, Killing Eve não foi apenas sobre o romance em potencial entre Eve e Villanelle. Com efeito, a série é muito rica em questionamentos, temáticas, possibilidades.
Entretanto, o relacionamento entre as duas personagens sempre foi sim o maior mote da série. Afinal, essa série no verdadeiro estilo “cat and rat” sempre deixou isso evidente, de uma maneira ou outra.
É inegável que a série possui uma tônica mais pessimista, um certo ar de desesperança. Não é uma série “feliz”, apesar da comicidade ser uma característica presente e marcante.
De início, justamente pelo fato da série ter essa tônica, não achava que elas fossem acabar ficando juntas. ENTRETANTO, no decorrer da série, isso foi mudando e essa possibilidade espetacular pairou constantemente no horizonte.
Isso porque a relação entre as duas foi evoluindo significativamente. Elas sempre tiveram uma química arrebatadora e inegável, mas no decorrer da série a relação delas foi crescendo e evoluindo. Antes, elas queriam matar uma a outra e, com a progressão da coisa, uma pela outra, defender uma a outra.
Aliás, não apenas a relação entre elas foi evoluindo, mas as personagens em si foram mudando, se transformando, desnudando mais e mais de suas várias camadas, mostrando as inúmeras possibilidades de ser.
A série, até então, sempre mostrou que nem tudo é “preto e branco” e que a vida é repleta de incontáveis tons de cinza. Isso ficou evidente na personagem da Carolyn, interpretada pela maravilhosa Fiona Shaw e ainda mais evidente nas 2 protagonistas, Villanele e Eve.
Nessa series finale, Eve começou a abraçar de ver seu “dark side”, assim como, por outro lado, ficou evidenciado o quanto Villanelle poderia ser menos problemática, ser mais altruísta, como ela poderia ter sim aquilo que é tido usualmente como positivo.
Aliás, nessa quarta temporada também eles deram a deixa sobre a metamorfose da Eve.
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Mas, quanto a esse ponto, fica um questionamento a parte: Villanelle precisava mesmo de redenção? Apesar de ser uma possibilidade, isso não precisaria necessariamente acontecer. Mas essa é uma reflexão para outra hora…
Os limites
Tenho de confessar que, apesar do jogo de gato e rato ser um dos pontos x da série, isso cansou um pouco na quarta temporada. Isso porque sempre ficou explícito no subtexto (e não adianta ninguém negar que não) que elas em algum momento ficariam juntas finalmente.
Isso realmente acontece, mas somente no ÚLTIMO episódio. Sim, finalmente, após 4 temporadas, finalmente se concretiza o relacionamento amoroso entre elas. Tiveram momentos fofos na cabana, comeram juntas à beira da estrada, fizeram sua trip road.
Rolou ainda andar de mãos dadas e o aguardado e caloroso beijo pra valer entre elas. O coração dos fãs ficaram quentinho nesse momento.
As duas partiram então na empreitada de finalmente matarem “Os 12”. Chegaram no barco, rolou mais um beijo e depois Eve foi distrair os convidados do evento que rolava no barco, enquanto Villanelle matava os membros dos 12.
Então, ao terminar os serviço, Villanelle para a área externa do barco e Eve vai atrás dela. Elas se abraçam e então temos a expectativa de que agora elas vão terminar juntos 4ever and ever. Expectativa essa que foi destruída segundos depois, quando um sniper mata Villanelle. Aliás, a mando de Carolyn.
Esse momento do abraço seria finalmente o momento onde elas supostamente poderiam ficar ao menos um tempo em paz e curtir a companha uma da outra.
Mas não. Os responsáveis pelo show resolveram sentar na graxa. Usaram do fator choque de formal vil, barata e torpe. Eles acreditaram erroneamente que estariam sendo super “diferentões”, que estariam “revolucionando” alguma coisa, mas foi justamente o oposto. Eles conseguiram, nessa cartada final, destruir tudo o que foi construído ao longo da série.
Não cola o argumento de que isso faria sentido para o plot. Ainda mais por causa da evolução delas e da relação entre elas e a concretização do romance delas na series finale.
Killing Eve sempre foi uma série que mostrou que as pessoas possuem seu dark side e são capazes de fazerem coisas ruins, mas também mostrou o quanto o conceito daquilo que é certo e errado é dotado de mais complexidade do que se imagina e que as pessoas merecem uma chance de ser feliz.
Mas, novamente, os responsáveis pela series finale se lixou aparentemente para o que foi construído no decorrer de 4 temporadas, tudo em prol do choque, em prol de ideias equivocadas.
“Bury your gays” e construções sem sentido
Também há de se ressaltar aqui que a morte de Villanelle, nesse caso, tratou-se do velho “bury your gays”, um tropo infelizmente muito comum em produções audiovisuais, onde uma personagem LGBTQIA+ é morta com uma frequência injustificada e totalmente desproporcional.
Sabemos que finais felizes acabaram muitas vezes se tornando um clichê na produção cinematográfica como um todo e que se pode criar outras alternativas, com finais tristes, chocantes, agridoces, etc.
ENTRETANTO, também não se pode e nem se deve avacalhar com essa ideia de “fazer diferente”. Não se pode querer forçar a barra de maneira desprovida de sentido e inteligência, forçando um final chocante ou triste com a desculpa de que se quer “fugir do comum”.
O fim de uma série ou filme precisa SER BEM FEITO, FAZER SENTIDO e não simplesmente tentar “fazer diferente” só por fazer, de maneira equivocada, usar do choque pelo choque, como o que ocorreu nessa series finale de Killing Eve.
Villanelle e Eve poderiam sim ter um final feliz e isso poderia ter sido feito de maneira criativa, inteligente e perspicaz. Mas não foi essa a escolha. Só nos resta a indignação.
PS: devo uma parte dos créditos desse texto a J.A., que conheci devido justamente a series finale e contribuiu com várias das reflexões e ideias expostas aqui ☺
1 Review ( 1 out of 10 )
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