Estreou ontem (24/04) o terceiro episódio da série Under The Bridge, transmitida pela plataforma de streaming Hulu. Confira o review de Under The Bridge S01E03 aqui no Cinemarte!
Recapitulação breve do 2º episódio
No segundo episódio de Under The Bridge, vimos um pouco do bullying e preconceito que Reena sofria, dentro e fora da escola. O corpo de Reena foi encontrado e, evidentemente, seu falecimento foi comunicado. Cam e Rebecca conversam e evidenciam que efetivamente já se conhecem e deixam a entender que rolou algo a mais entre elas. Cam descobre que as ligações anônimas para os Virks vem de Dusty, que se sente culpada. Josephine supostamente confessa que ela e mais pessoas espancaram Reena e que depois ela a empurrou e matou.
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Review do terceiro episódio – Under The Bridge S01E03
Uma das coisas mais legais de se observar em Under The Bridge S01E03 e na série até agora como um todo é que, ao mesmo tempo que vamos recebendo novas e esclarecedoras informações acerca da morte de Reena, de quem pode ter feito isso e quais foram as circunstâncias, outras novas e tantas dúvidas e questionamentos vão sendo colocados. A cada nova descoberta, a cada nova pista, potenciais novos suspeitos vão sendo colocados para jogo.
No fim do episódio anterior, vemos que o pai de Reena recebe um comunicado oficial da coroa inglesa, que “limpa” o histórico dele de uma acusação criminal que ele recebeu. Isso não será totalmente esclarecido nesse terceiro episódio, mas vai ser sim explorado. Isso reforça, mais uma vez, um dos aspectos excelentes da série, que é não deixar nada solto, nada sem ser explicado ou utilizado. Denota coerência, coesão e inteligência. E competência.
Os pais de Reena recebem a fatídica notícia e o pai de Reena, até então tão doce e otimista, acaba desabando. Mais do que isso: ele diz que Josephine “tem o diabo no corpo”, o que soa como se ele estivesse acusando a garota. O tio de Reena, Raj, de certa forma, compartilha da ideia de que foi algum (ou mais) jovem daquela cidade quem matou sua sobrinha.
Em uma conversa na casa de Cam, Rebecca conta sobre a confissão de Josephine, mas Cam descarta essa possibilidade e explica o por quê: conferindo os horários registrados pela câmera e tendo em conta o horário que Josephine teria chegado na residência, não teria como ela ter matado Reena e chegado a tempo em Seven Oaks. E acrescenta que Rebecca deve parar de se meter no assunto, algo que Rebecca recusa.
Fica desnudado aqui mais um pedaço do pedaço do passado entre Rebecca e Cam. Por alguma razão ainda não revelada, Rebecca foi embora dali no passado e sem falar nada para Cam e nem tentou manter contato depois, algo que Cam faz questão de pontuar nessa conversa. Algo relacionado ao irmão falecido de Becca é citado, Cam fala algo que Becca não gosta e as duas se desentendem.
A mãe de Reena, diante do fato do pai de Reena afirmar que não tem condições emocionais e psíquicas de reconhecer o corpo da filha, a mãe se dispõe a ir. Descobrimos que Reena não sofreu violência sexual e, além disso, o espancamento debaixo da ponte não teria sido o suficiente para matá-la. De fato, a legista deixa claro que, além de afogamento (que foi o que a matou), ela pode ter recebido um novo espancamento, tão forte que mesmo que a queda na água não a afogasse, ela teria morrido por conta desse espancamento.
Em outras palavras, tudo dá a entender que Reena não apanhou “apenas” na ponte naquele primeiro momento, mas sim que, após sair de lá e caminhar cambaleante, alguém deve ter batido nela novamente e a empurrado na água. Além disso, havia uma queimadura na testa de Reena, bem no meio da sobrancelha e havia algo grudado ali, emulando um bindi (espécie de enfeite, que pode ser uma joia ou um ponto de tinta).
Aqui, mais uma vez, temos pistas que as motivações para o assassinato de Reena se encaixam em um discurso e prática de ódio. Ora, um dos elementos mais notoriamente conhecidos da cultura indiana é justamente o uso do bindi. É explícito que, quem quer que seja que a tenha matado, nutra um profundo e asqueroso componente racista e xenófobo.
Outro ponto que vale destacar nesse episódio é o envolvimento de um garoto chamado Warren G, algo que foi descoberto pela namoradinha dele, em um descuido do mesmo. O que ficamos sabendo nesse episódio de Under The Bridge é que ele participou do espancamento. Só não sabemos até que ponto ele participou.
É exibida a origem da construção da gangue encabeçada por Josephine, a C.M.C. Em um rolê que contava com a presença de alguns garotos e diante do impedimento deles sobre elas comporem a gangue (que nesse caso era exclusivamente masculina), Josephine cria então uma gangue só com as garotas. A primeira pessoa que ela convoca para ser membro é Kelly, sua amiga.
Contudo, quando Reena manifesta seu interesse em fazer parte, é barrada. Josephine declara que ela e Dusty não podem fazer parte por enquanto, que não estariam supostamente prontas, que teriam que provar seu valor. Aqui vale a pena elucidar que Josephine e Kelly são duas garotas brancas, enquanto Reena é uma garota não-branca e Dusty é uma garota negra.
Fica mais do que explícita aqui, mais uma vez, a questão do racismo, do quanto e como grupos que compõe uma minoria são excluídos, silenciados, rejeitados, nos mais diferentes âmbitos, meios e contextos. Regularmente, não importa o quanto um grupo minoritário tente se enquadrar: em algum momento ele sofreu ou vai sofrer opressão.
Rebecca conversa com Josephine, que persiste em sustentar a narrativa de que matou Reena, só para manter a pose e a fama de bad girl, mesmo Becca deixando claro que ela sabe que não foi ela. Pede que ela conte a verdade e deixa claro que não vai legar a garota para Nova York, o que enfurece Josephine e a faz se retirar.
Cam e Rebecca se encontram no memorial à Reena e combinam sair mais tarde, para ter uma conversa de verdade e acertar as coisas entre elas. É impossível não destacar novamente a incrível química entre as duas atrizes, o que torna a interação entre as personagens algo natural, fluido e espetacular de assistir.
Não dá para deixar de comentar também a maravilhosa cena do beijo entre Cam e Rebecca, confirmando de uma vez por todas o que teve e ainda tem, de certa forma, entre elas.
Rebecca procura conversar com Raj, tio de Reena e descobrir mais coisas, incluindo a história por trás da acusação criminal “antiga” que o pai de Reena recebeu e, no atual contexto, serviu de base para inclui-lo como um potencial suspeito. Não se sabe ainda exatamente o que é. Nutro a teoria que é alguma acusação de abuso sexual ou agressão contra Reena, mas só descobriremos mais tarde.
No final do episódio, algo interessante acontece e deixa o gancho para o próximo episódio: em um rolê na casa de Kelly, ao adentrar no armário da amiga para pegar algo, Josephine percebe a presença do sapato que era de Reena, todo enlameado. Ela chama a amiga, ao que tanto Kelly quanto Dusty aparecem à porta do armário. Josephine está evidentemente surpresa, assustada e chocada, Dusty também, mas Kelly parece estar orgulhosa do ato escuso.
Questionada por Josephine, ela disse que fez isso por Josephine. Isso levanta novas suspeitas e nos traz mais dúvidas: será que Kelly matou Reena? Ou Kelly foi uma das cúmplices, mas o ato foi encabeçado por outra pessoa? Até onde Josephine sabe das coisas e o que e quanto está escondendo? Quem efetivamente matou Reena?
Vale pontuar algo que talvez nem todos tenham dado a devida atenção e refletido: Kelly parece ser de uma família com ótimas condições financeiras, o que é evidenciado pelo naipe do quarto que ela tem (que conta inclusive com uma enorme letra K acima da cabeceira). Evidencia-se aqui, de forma “sutil” um marcador, um elemento de distinção, mesmo entre as garotas brancas: o componente da condição social, da condição econômico-financeira dessas pessoas.
Isso nos faz refletir e questionar a respeito do que leva essas garotas, cada qual dentro do seu contexto social, a terem determinadas posturas e práticas. São classes sociais distintas e, apesar de alguns pontos em comum, outros tantos as distinguem. Vale mais uma vez reforçar as questões de raça e etnia também (afinal a Dusty também participou de alguns atos). A corda não pende do mesmo jeito para ambos os lados. Ela sempre vai causar problema no elo tido como mais fraco. São camadas e camadas diversas de opressão e de privilégios que se interpõe. O que acontecerá quando tudo vier à tona? Serão todos punidos ou, mais uma vez, só arrebentará para o lado mais fraco?