Review da Series Finale de Under The Bridge

Inicialmente, nessa series finale de Under The Bridge, temos novamente um flashback de Reena com Kelly, Dust e Josephine no abrigo, escutando o cd, tendo uma rusga e depois Reena contando a Dust e Josephine descobrindo o que Reena fez.

Vemos, numa sequência inédita, Josephine ligando para Kelly e contando o que descobriu e expressando sua raiva e indignação. Kelly, de maneira tremendamente fria e sem qualquer vislumbre de emoção, sugere o que elas poderiam fazer com ela: cavar um buraco e enterrá-la viva. Surpreendentemente, quando Kelly fala isso, conta com a presença da mãe no quarto, a qual não a repreende; aliás, a mãe dela não esboça qualquer ação.

Essa cena é espetacular, pois mostra o quão permissivos e coniventes foram os pais dela, o quão essa educação cercada de privilégios foi dada de maneira a reforçar esses mesmos privilégios, a não realmente considerar o outro.

Em uma visita de Cam à detenção, Josephine escuta uma fita com o depoimento de Kelly, onde a mesma procura colocar a culpa do ocorrido nela. Isso, mais do que mostrar a traíragem e o quanto pessoas más não tem amizades muitas vezes, mas sim aliados, evidencia um recorte social, evidencia outra camada de privilégios. Josephine, assim como Kelly, é branca, o que proporciona à ela os privilégios da sua cor, porém Josephine é pobre e Kelly não, o que escancara as diferenças sociais e o privilégio de classes mais abastadas.

Posteriormente, temos o depoimento de Dust e outras duas garotas no tribunal, onde elas não apenas confessaram o que elas mesmas fizeram, mas o que Josephine e principalmente Kelly fizeram, com riqueza de detalhes. Kelly ouve tudo e demonstra 0 emoções, demonstra uma frieza glacial. Aqui a direção e roteiro foram geniais, para demonstrar o grau de culpa e psicopatia de Kelly, comprovar a culpa dela.

Warren aceita testemunhar, onde confessa por completo toda a sua participação e conta tudo o que Kelly fez. Depois, Kelly vai fazer sua fala no tribunal. Ela inicia demonstrando frieza e deboche, mas termina demonstrando seu descontrole, sua raiva, sua agressividade, negando o que fez a Reena. Uma atuação brilhante da jovem Izzy G, onde ela capta e expressa toda a postura de Kelly com maestria.

Kelly é condenada por assassinato, mas sua pena é muito menor que a de Warren e muito é atenuado sobre quem ela é, evidenciando pela milésima vez a questão do privilégio racial e social. É a série exibindo que a Justiça é burguesa e branca.

Outras duas cenas importantes são Cam olhando seus papéis de adoção e depois confrontando o pai. Descobrimos que seu processo de adoção não foi como esperado: havia uma espécie de programa de adoção de crianças indígenas e Cam tinha sim uma família, mas foi arrancada dela.

Em uma cena incrivelmente linda e absurdamente triste, vemos a mãe e o pai de Reena escutando as músicas que Reena ouvia e ficando emocionados e o “espírito” de Reena a porta, observando. Foi profundamente tocante e comovente, levando o espectador a uma miríade de profundas emoções.

Um pequeno defeito da série foi não ter mostrado mais e melhor do passado de Cam e da relação dela com Rebecca. Claro que aqui o foco podia e devia ser Reena e a brutalidade que aconteceu com ela. Contudo, como as personagens de Cam e Rebecca foram usadas como ponto de conexão e reflexão para o plot principal, seria interessante mostrar esses elementos, nem que fosse em uma curta sequência de cenas. Vimos apenas Cam jovem ajudando o irmão de Becca, uma interação dos três e das duas, mas foi apenas isso.

Em linhas gerais, Under The Bridge foi uma série muito bem feita, uma narrativa e desenvolvimento bem construídos.