Warrior Nun: precisamos (ainda) falar sobre a série (e seu cancelamento)

Sim, eu sei que você deve estar pensando que talvez esse review de Warrior Nun seja um pouco fora de hora, que perdeu o timing e coisas do gênero. Talvez de fato esteja (bem) atrasada nesse review. Mas, para além do fato da redatora que vos fala só ter visto a série agora, existe a necessidade inegável de ainda se falar sobre a série e uma tentativa quiçá utópica de salvá-la.

Warrior Nun foi veiculada pela plataforma de streaming Netflix entre 2020 e 2022. Após duas temporadas, ela acabou sendo injustamente cancelada pela plataforma, gerando grande comoção e revolta nos fãs. Depois de uma intensa e longa campanha, em 2023, saiu a notícia que a série ganharia uma trilogia de filmes. Mas será mesmo motivo para comemoração? Vamos entender.

Warrior Nun
Warrior Nun – Créditos da imagem: Dexerto/Reprodução

Sinopse de Warrior Nun

Na série Warrior Nun, temos a jovem Ava (Alba Baptista), que acorda em um necrotério e, mais do que isso, conta agora com um dispositivo de caráter divino instalado em suas costas. Em busca de respostas, descobre que existe todo um conjunto de freiras e padres que combatem demônios. Ava se torna parte da ordem de freiras guerreiras, onde as ajuda a combater o mal.

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Review de Warrior Nun – 1ª temporada

Na primeira temporada de Warrior Nun, conhecemos Ava (Alba Baptista), uma jovem que era tetraplégica e que acabou sendo deixada em um orfanato. Lá a vida dela se torna ainda mais difícil e seu único amigo é um garotinho. Ava acaba morrendo e, ao ser levada para o necrotério,  Acidentalmente, como um suposto acaso, um artefato religioso sagrado, o Halo, é tirado de uma Freira Guerreira e colocado em Ava.

Milagrosamente, Ava volta à vida e, mais do que isso, retorna sem a sua anterior deficiência física. A partir daí, vemos a jornada de Ava para entender o que aconteceu com ela e também sua posterior integração ao time das Freiras Guerreiras. Essas freiras recebem um treinamento de combate, um treinamento ninja bem intenso. Elas fazem parte da Ordem da Espada Cruciforme, que busca combater o Mal e proteger o Halo a todo custo.

De tempos em tempos, uma das freiras se torna a portadora do Halo, ganhando assim poderes especiais de origem divina. A penúltima portadora tinha sido a Irmã Shannon, que acabou morta em uma emboscada. Foi justamente com a morte da Irmã Shannon e a necessidade urgente de proteger o Halo que as freiras guerreiras colocaram, numa medida desesperada, numa garota qualquer que estava no necrotério. E essa garota era Ava.

Ela passa a fazer parte do grupo, é treinada e começa então a ajudar as irmãs guerreiras não só a proteger o Halo em si, mas combater demônios, tudo isso da forma mais discreta possível.

Cada uma das freiras guerreiras tem seu motivo para estar ali, tem todo um background, uma história. Ava encontra nesse grupo de freiras combatentes uma verdadeira família, que aprende a amar e conviver. Nessa primeira temporada, o propósito delas é impedir que Jillian (Theklan Reuten) logre em finalizar a construção de um portal para o céu. Sim, Jillian tenta unir ciência e religião, com um propósito: curar seu filho Michael, que tem uma doença muito séria.

Um fato importante e interessante é que Ava e Beatrice se aproximam bastante. Assim como Ava se abre para Beatrice, Beatrice faz o mesmo e revela que é lésbica e que foi enviada para o convento como uma forma de punição por parte dos pais. Mas, surpreendentemente, as freiras a receberam muito bem, a acolheram.

As Freiras Guerreiras, juntas com o padre Vincent e a Madre Superiora engatam numa missão: adentrar na tumba de Adriel, escondida sob o Vaticano, para dar cabo do material que permitiria a conclusão da construção do portal. Elas acabam libertando Adriel e aí um grande plot twist acontece: Adriel não é aquilo que imaginavam, estando mais para uma espécie de anjo caído e o padre Vincent traiu e enganou as Freiras Guerreiras para ajudar Adriel a ser libertado.

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Review Warrior Nun – 2ª temporada

Na segunda temporada, Ava, Beatrice e tantas outras permanecem se escondendo e procurando uma maneira de derrotar Adriel. Ava e Beatrice vão trabalhar em um bar, como disfarce. Lá conhecem Michael, um jovem aparentemente cético e crítico à religião.

A essa altura dentro daquele universo, Adriel havia se revelado e começado a angariar cada vez mais fiéis, protagonizando milagres dos mais diversos. As pessoas, sem maiores filtros ou postura crítica, creem nele e o veem como um Salvador (algo que o próprio Adriel proclama também).

O trabalho das freiras guerreiras fica ainda mais difícil, pois elas precisam ser ainda mais discretas. Afinal, agora elas são perseguidas pelo séquito fanático de Adriel.

A amizade entre Ava e Beatrice se estreita ainda mais. Aliás, fica evidente que elas passaram a sentir muito mais que uma simples amizade uma pela outra, mas isso tudo de uma forma muito platônica ainda.

Ficou evidente que Jillian não é a grande vilã da coisa toda e sim Adriel, que quer dominar o nosso mundo, sob a desculpa de que o “status quo” dominante, na visão dele, só fez coisa errada até então e nunca verdadeiramente ajudou ou pensou no bem das pessoas.

O propósito de Adriel é construir os meios necessários para ganhar uma quantidade cavalar de poder, usar o portal de Jillian para fins escusos e dominar esse mundo.

O jovem Michael é, na verdade, o filho de Jillian que havia entrado no portal na temporada anterior, se curou, mas como o tempo na outra dimensão é diferente da nossa, ele retorna como alguém de 20 e poucos anos.

No final, os planos das freiras guerreiras se frustram em partes, mas Ava consegue enfim dar um jeito de destruir Adriel. No entanto, nessa batalha, ela fica gravemente ferida. Lilith então sugere que Ava atravesse o portal na tentativa de ser curada. E assim acaba a temporada.

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Erros e acertos de Warrior Nun

Warrior Nun surpreendeu bastante. Ao assistir, mais do que entender os fãs apaixonados da série, tornei-me uma. Trata-se de uma obra extremamente divertida, empolgante, eletrizante. É uma série com caráter inusitado e que sabe abraçar essa ideia e levá-la de maneira muito sagaz.

Trata-se de um nunsplotation na melhor acepção do termo. Histórias que envolvem freiras tem um quê de interessante, que dirá então uma série lotada de verdadeiras freiras com habilidades ninja e guerreiras, assumindo um protagonismo feminino na luta contra o Mal.

Uma das melhores coisas de Warrior Nun é que apesar dela sim trabalhar com a questão da luta do bem contra o mal, ela não se prende a binariedade disso. De fato, ela mostra os inúmeros tons de cinza que fazem parte das pessoas e da realidade.

A jornada do herói cumprida por Ava é deliciosa de se ver. Nota-se uma ambiguidade muito grande e isso que é uma das riquezas da série: ao mesmo que vemos uma jovem Ava podendo desfrutar de todas as possibilidades que a vida pode oferecer, após ser curada, temos alguém que tem de lidar com toda a carga e complexidade daquilo que a nova posição dela, como Irmã Guerreira traz.

Aliás, não só a série mostra os sacrifícios e complexidades que a posição de Irmã Guerreira traz, mas também o peso de tudo aquilo que as demais integrantes da Ordem tem que lidar, os sacrifícios que elas tem de fazer. Não basta lutarem contra o mal de outra dimensão; elas tem de lutar com toda a podridão, manipulação e corrupção que fazem parte do nosso mundo. É muita coisa para todo mundo que faz parte dessa ordem.

A série mistura uma quantidade expressiva de ação com uma série de críticas e discussões que, apesar de não serem algo novo, são extremamente pertinentes, ainda mais no nosso contexto atual. Além das sequências de lutas e embater físicos, Warrior Nun faz críticas aos aspectos negativos das religiões, como o fanatismo, a manipulação, a desestimulação do espírito crítico, a disputa cega por poder, a credulidade ingênua.

Alba Baptista é, além de carismática, muito talentosa e dá um excelente tom ao papel. Eles consegue trabalhar bem a personagem ao longo da narrativa, sabendo dosar todo o fardo das responsabilidades de Ava, mas nunca esquecendo do lado divertido, ácido e sarcástico dela.

Cabe aqui um destaque para a Beatrice também, interpretada por Kristina Tonteri-Young. Apesar de um jeito um pouco mais sério do que Ava, ela é bastante cativante e tem muita presença. Beatrice é habilidosa e inteligente, um verdadeiro porto seguro, inclusive para Ava.

Uma das coisas mais legais de se observar nessa temporada foi o aprofundamento sobre a personagem da Madre Superiora. A despeito de seu jeito sisudo e duro, temos alguém sincero, de bom coração, íntegro e altamente badass. Passamos de pessoas que ficam cabreiras com sua postura severa para alguém que admira muito a madre.

A série teve plot twists interessantes, como a descoberta que Adriel não é um anjo bom, a traição terrível de padre Vincent, o jovem Michael ser o filho de Jillian, Duretti não ser o vilão que imaginávamos, a volta de Lilith transformada. Foi ótimo também ver a redenção de padre Vincent.

Entretanto, nem tudo são flores em Warrior Nun. Devemos começar pelo arco de Lily, onde de uma inveja e ressentimento por Ava ter se tornado a Irmã Guerreira gera uma tensa rivalidade. É interessante ver o desenvolvimento dessa personagem e seus embates com ela. Ótimo também ela ter retornado de sua incursão ao “mundo de Adriel” transformada em algo que não sabemos e sua redenção.

Porém a narrativa degringola ao fazer uma verdadeira involução com o personagem de Lilith. Ela era invejosa, ressentida, hostil, mas quando retorna viva e transformada, se redime, ajudando Ava e as demais irmãs. Mas eles jogam no lixo esse desenvolvimento ao fazê-la procurar Adriel para entender o que ocorre com ela e não suas irmãs e, pior ainda, fazê-la cair na lábia mentirosa dele. Havia outros caminhos possíveis no roteiro para ela após a transformação, mas eles foram pelo mais tosco.

Agora, é necessário falar do cancelamento da série pela Netflix. É muito evidente a lgbtfobia com esse cancelamento. A série tinha uma boa adesão, tinha qualidade, tinha audiência, mas foi cancelada mesmo assim. A Netflix tem um histórico péssimo de cancelar séries sem mais nem menos, mas isso é ainda pior com séries sáficas.

Temos evidente a paixão entre Ava e Beatrice, mas que eles optam deliberadamente por não resolver, nos dando algumas míseras migalhas de evidência do sentimento entre elas e um único e rápido beijo próximo ao final.

Além disso, ficou meio sem sentido forçarem a ideia de Ava ir a outro plano para ser curada, quando Reya, que estava ali presente, poderia curá-la. Havia outras formas dele gerarem um gancho na história para uma próxima temporada.

Ademais, esse cancelamento preconceituoso e abrupto cortou a série ao meio, deixando várias pontas soltas, várias coisas por explicar. O que afinal está acontecendo com Lilith? Que “ser” ela está se tornando? O que ela viu lá do outro lado?

E as irmãs coptas? Qual a história delas, completa? Como Ava conseguiu “ressuscitar” a Madre Superior (sim, o Halo tem a ver, mas exatamente como?)? Será que Ava significa algo muito maior na narrativa do que parece? Quem é de fato Reya, quais as intenções dela? Ela é realmente um ser de luz?

Se supostamente o único jeito de matar Adriel era Ava se unir a Michael (o qual tinha uma espécie de “bomba” em seu corpo), de acordo com Reya (conforme Michael falou), por que ele não morreu quando ela fez isso? Ok, Ava estava desconfiada dessa ideia, pois aparecia apoiada numa questão semântica, como ela própria afirma.Mas, segundo ele e segundo o que Ava viu em sua incursão ao mundo de Reya e Adriel quando usou a coroa de espinhos, esse era o único jeito. Por que então não funcionou? Será que Reya mentiu e manipulou Ava e Michael? Qual foi o propósito? O que Ava viu na incursão ao mundo de Reya e Adriel?

Por fim, que guerra santa é essa que Lilith citou? O que ela sabe? Quem são os agentes participantes dessa guerra? Quem está por trás dela?

Após uma longa e intensa campanha dos fãs, foi anunciado que a série ganhará uma sequência de 3 filmes. Apesar de isso a princípio ter parecido algum consolo para os fãs da série, isso trouxe é mais preocupação. Isso tanto pelo fato de que há muita coisa para ser desenvolvida e explicada, tanto pelo fato de que, segundo algumas notícias, a trilogia não teria nada a ver com a série em si. Ou seja, continuaríamos sem respostas sobre o que rolou com nossas amadas freiras guerreiras.

Desejamos que os responsáveis pela trilogia realmente a concretizem, mas que tenham uma boa dose de noção, bom senso e respeito, não só com os fãs em si, mas com a própria história das Warrior Nuns e façam algo que feche a série e não algo completamente diferente.

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Redatora web há 7 anos. Faço parte da equipe de redação do Cinemarte, escrevendo reviews das séries e filmes que assisto!

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