O filme “Rainha Cristina” foi lançado em 1933, produzido pela MGM, tendo Rouben Mamoulian na direção. Agora, no elenco, conta com a presença de Greta Garbo, Gustav von Seyffertitz, John Gilbert e Akim Tamiroff. Ademais, sua duração é de 1h39min. Saiba mais sobre a crítica do filme aqui no Cinemarte.
Sinopse do filme “Rainha Cristina”(1933)
Christina, interpretada por Greta Garbo, é uma mulher determinada em busca de sua própria liberdade. No entanto, ela enfrenta o desafio de viver na corte sueca durante o século XVII, onde as restrições impostas às mulheres são severas, obrigando-a a submeter-se aos desejos alheios. Diante da pressão de seus conselheiros para que se case com Carlos de França, Christina toma a decisão ousada de fugir da corte, disfarçada de homem. É nessa circunstância que ela encontra Antonio, o embaixador espanhol vivido por John Gilbert, que inicialmente a confunde com um jovem, despertando um intenso sentimento de amor em Christina. No entanto, um obstáculo central se interpõe entre eles: Antonio é católico, enquanto Christina é protestante.
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Grandes poderes e grandes responsabilidades
Antes de iniciar a análise propriamente dita, vale a pena desnudar um pouco mais sobre a história contada no filme Rainha Cristina. Cristina, interpretada pela diva maravilhosa Greta Garbo, é a Rainha da Suécia, que assumiu o trono aos 6 anos de idade, devido a morte do seu pai em uma batalha. Ela é obviamente ajudada por um conselho real, sobretudo em tão tenra idade. No entanto, conforme o passar dos anos, ela tem uma postura ainda mais ativa e proativa do que já tinha.
Um elemento interessante é que nem sempre Cristina performa a feminilidade da maneira tradicional, habitual. Ao contrário da maioria das mulheres do período ali, ela usa roupas lidas como mais masculinas, como calças e coisas do gênero. Além disso, também faz coisas e atividades tidas como comuns aos homens. Isso é bastante interessante nesse filme, ainda que ela seja um filme da era pré-code.
Cristina é uma boa rainha e o país se desenvolve bastante durante o seu reinado. É uma líder muito poderosa e que exerce uma enorme influência. Um aspecto interessante da obra é que apesar de muito pontualmente o filme evidenciar a questão do machismo, ele mostra uma perspectiva diferente do esperado, onde todos ali parecem respeitar muito a Rainha Cristina, inclusive os homens. Ela é ouvida, recebe a devida atenção, é obedecida, enfim, tem uma boa dose de reconhecimento e respeito.
Isso é impressionante não apenas se pensando no contexto histórico no qual ele é baseado, mas também na própria época na qual o filme foi feito. Exibir uma mulher em uma posição de altíssima liderança, sendo dominante e protagonista é de fato uma perspectiva e leitura sensacional.
Cristina, por ser rainha, tem de cumprir a obrigação de se casar e gerar um herdeiro, afinal, trata-se de uma monarquia. Já há, em tese, um par escolhido para ela. No entanto, a rainha não tem interesse em se casar tão cedo, tampouco com o par elencado a ela.
A fotografia de Rainha Cristina é excelente, o que torna a experiência mais prazerosa e agradável. Contudo, o destaque mesmo vai para a impecável atuação de Greta Garbo. Que Greta é uma atriz do mais elevado calibre todos nós sabemos. Mas nesse filme a atuação dela, sua interpretação da personagem está particularmente sublime, soberba, espetacular.
Seu talento é escancarado em cada expressão, cada fala, cada monólogo, cada diálogo, cada ação. Diversas das cenas com monólogos que aparecem no decorrer da obra poderiam acabar se tornando um melodrama desnecessário. Entretanto, devido a toda o peso da atuação dela nesse papel os monólogos acabam ganhando outro corpo, outra dimensão, outro aspecto e significado.
Ela consegue trazer e expressar toda a profundidade dos sentimentos e pensamentos de Cristina, dando mais densidade à personagem e ao filme como um todo.
A personagem desafia um pouco às convenções sociais, na medida do possível. Apesar de seu “prometido” ser o Príncipe Carlos, ela se envolve.u secretamente com um cara da corte, o qual se recalca com a rejeição de Cristina, principalmente após a mesma ter se envolvido clandestinamente com o emissário diplomático espanhol. Em um passeio a cavalo, no qual ela está “disfarçada” de figura masculina, acaba conhecendo por acaso o emissário espanhol e tem um caso com ele (sem ele saber que ela é a Rainha)
Todavia, ela tem de voltar à corte, inclusive para receber o emissário espanhol. Imagina a surpresa e espanto dele ao chegar no hall da rainha e dar de cara com Cristina. Ela tenta estender a estadia dele. Mas uma intriga espalhada pelo recalcado Conde Magnus (que teve um caso com ela), a população se mostra hostil ao emissário espanhol, tudo isso intensificado pelo fato dela ser protestante e ele católico (lembre-se que o filme se passa no período da Guerra dos 30 anos, cuja uma das principais motivações era o conflito entre católicos e protestantes).
Aliás, um defeito do filme é que faltou colocar um pouco mais do pano de fundo histórico, que é bem pouco mostrado e falado ali, muito pinceladamente. Faltou também um pouco mais do pano de fundo da corte real em si, mostrando todas as tramoias, as fofocas e intrigas.
O seu “prometido”, o seu primo Príncipe Carlos queria o trono, certamente não devia ser um bonzinho na situação, mas não se mostra no filme o lado dele, ele tramando algo. Certamente é algo que fez um pouco de falta na obra.
É curioso o quanto o filme Rainha Cristina é relativamente liberal para o período, ainda que seja um filme pré-code. Mostra sexo fora do casamento, roupas lidas como mais masculinas na personagem mulher, uma relação e até mesmo selinho homoafetivo (entre a rainha e sua acompanhante).
Rainha Cristina é um épico biográfico de época muitíssimo bem feito, que certamente deve ser visto e revisto. Apesar de Greta não ter ganho o Oscar pelo papel, certamente ela merecia e muito o prêmio, pois foi simplesmente incrível.