Crítica do Filme Close 2022

O filme belga “Close” foi lançado no ano de 2022, contando com Lukas Dhont na direção e um elenco composto por  Eden Dembrine, Gustav De Waele, Emilie Duquenne, Léa Drucker, Kevin Janssens, Léon Bataille. A obra tem a duração de 101 minutos. Saiba mais sobre o filme aqui no Cinemarte.

Sinopse de “Close”

O filme Close retrata a amizade de dois meninos: Rémi (interpretado por Gustav de Waele) e Léo (interpretado por Eden Dambrine), que residem no interior da Bélgica. Os dois adolescentes de 13 anos nutrem uma amizade bastante próxima e bonita. Contudo, quando do início das atividades escolares, as “piadas” de mau gosto acabam afetando Léo e fazendo-o se afastar de Rémi. A interrupção dessa amizade pode ter consequências sérias.

O valor do preconceito

A narrativa do filme Close se concentra em uma das etapas mais interessantes, porém também mais emblemáticas e complexas da vida, que é a adolescência. É uma época de nossas vidas onde nossas personalidades e nossa forma de agir e pensar começa a ser mais consolidada, a ser formada com mais ímpeto.

Contudo, por ser ainda uma época justamente de instabilidade, incertezas e dúvidas, enfim, de formação, tudo ali vivido tem uma intensidade ímpar. Consequentemente, o que há de bom para ser vivido é experimentado com ainda intensidade e potência, mas o mesmo vale para as experiências ruins, que podem machucar e trazer marcas para toda a vida (ou mesmo por um bom tempo).

Close, como o próprio nome diz, remete à questão da proximidade, da intimidade, do estreitamento de laços, sentimentos, conexões e relacionamentos. A amizade entre Léo é assim, repleta de proximidade, de conexão, de afeto, carinho. São amigos que se amam, de uma forma pura e muito bonita.

A cumplicidade e a proximidade entre eles é espetacular e incita o espectador a se nutrir essa mesma proximidade e cumplicidade para com eles. Nos tornamos, por extensão, próximos a eles e cúmplices dessa linda amizade.

A quantidade de planos fechados ajuda na construção desse sentimento de proximidade e cumplicidade, nos fazendo imergir nesse contexto fraternal. É válido pontuar que o diretor acaba dando certas nuances que por vezes levantam a uma possível hipótese de haver algum sentimento a mais, mas isso jamais fica claro e, de toda forma, não é um demérito. Pelo contrário: ao deixar aberto esse campo de possibilidades, ele abre mais camadas de reflexão.

Infelizmente, tudo muda com o início das atividades escolares e o preconceito e homofobia velados geram bullying, piadas e chacotas com relação a estreita proximidade entre Léo e Rémi. O que antes não era encarado, ao menos por Léo, como “errado”, passa tristemente a ser visto de forma diferente, por conta da pressão social preconceituosa e homofóbica, de taxar os garotos de serem gays tão somente pelo fato de serem muito próximos e apegados.

É interessante destacar que o filme é bem “redondinho” em termos de narrativa, sendo bem sucedido em mostrar a amizade estreita entre Léo e Rémi, depois em mostrar o preconceito e os impactos negativos na tal relação e por fim as consequências dessa ridícula pressão social e da atitude tosca em destilar preconceito velado em forma de “piada”, chacota e “tiração de sarro”.

Apesar de subliminarmente ficar aberta a possível chance de um sentimento a mais ali, esse não é nem de longe o x da questão. O ponto chave é mostrar como uma relação de amizade entre pessoas do mesmo sexo, no caso do sexo masculino, tão inocente, pura, verdadeira e bonita ser taxada de forma preconceituosa e velada.

Close mostra o quão a questão das masculinidades, papéis e expressões de gênero, apesar de diversos, sofrem profundamente com a ação do discurso hegemônico de uma masculinidade “homogênea”, fechada, engessada, carregada da ideia do “homem viril”.

Isso se evidencia quando Léo, que não havia problema algum em certas atividades começa a se dedicar a outras modalidades de atividades, vistas como mais masculinas, cedendo a uma pressão social por medo de ser taxado de homossexual e ser rejeitado por isso.

A obra é eficaz em mostrar como o discurso de ódio, ainda que de forma “velada”, pode acabar com pessoas, personalidades, amizades, etc. Cabe aqui um esclarecimento: por conta do afastamento, Léo e Rémi se desentender, brigam e a amizade é interrompida. Isso tem um efeito devastador em Rémi, que não entende as atitudes do amiguinho e, tristemente, acaba cometendo suicídio.

Close é um filme belo, porém muito triste e dolorido, que nos faz refletir como nós, enquanto sociedade, deveríamos repensar nossas mentalidades e atitudes, sob o risco de, se não o fizermos, as consequências serão dolorosas.

0 Reviews ( 0 out of 0 )

Write a Review

Redatora web há 7 anos. Faço parte da equipe de redação do Cinemarte, escrevendo reviews das séries e filmes que assisto!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nosso site usa Cookies do Google para melhorar sua experiência!