Monkey Man (2024) – Crítica do filme

Monkey Man (que recebeu o nome de Fúria Primitiva, no Brasil e Homem Macaco, em Portugal) vai entrar em cartaz nos cinemas no dia 16 de maio desse ano. Com história original de Dev Patel, roteiro escrito por Paul Angunawela e John Colee, a obra representa o debut do ator Dev Patel como diretor. A produção é de Jordan Peele. Nos EUA, o lançamento será por conta da Universal Pictures, enquanto no Brasil ele será lançado pela Diamond Films.

Monkey Man
Monkey Man – Créditos da imagem: Book My Show/Reprodução

Sinopse de “Monkey Man” (2024)

O filme Monkey Man conta a história de Kid (Dev Patel), um jovem que ganha dinheiro em uma espécie de clube da luta clandestino, usando uma máscara de gorila, sendo pago para apanhar de lutadores mais populares. Guardando uma raiva enorme por anos, ele descobre como se infiltrar em um restaurante/clube de elite na cidade. Um passado carregado de traumas e uma enorme sede de vingança vão ser os combustível para a tentativa dele de equilibrar essa equação.

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Uma obra ambivalente

O filme Monkey Man, conforme citado anteriormente, marca a estreia do ator Dev Patel como diretor. Deve-se dizer nesse caso que seu debut enquanto diretor veio com tudo, sendo muitíssimo bem sucedido nessa empreitada. A despeito de todas as dificuldades que atravessou para conseguir realizar esta obra, foi capaz de construir uma película simplesmente espetacular, em muitos aspectos.

É interessante como a obra pode ser lida e consumida de diferentes formas, apesar de ser melhor aproveitada se for considerada na totalidade daquilo que é: um filme multifacetado, repleto de muitas camadas, ferramentas e vieses. Mais do que um “simples” thriller de ação, Monkeyman traz elementos de religiosidade e mitologia, críticas sociais, crítica política e a clássica jornada do herói.

Patel definitivamente, ao contrário de muitos filmes do gênero ação, não economizou no sangue, violência e gore. Muitas vezes, apesar dos filmes de ação contar com cenas de luta, tiroteio e toda sorte de violência, isso é feito de forma menos “gráfica”, no sentido de não exibir tanto sangue, violência explícita e gore. O filme de Patel diverge de muitos filmes de ação nesse aspecto, o que surpreende.

Vemos aqui a clássica jornada do herói, onde o protagonista está numa situação muito dura e complicada, até passar por uma série de etapas de transformação após o chamado para a aventura e rumar em direção ao seu objetivo, ao cumprimento de sua missão.

É sensacional não só o fato de Patel ter usado a história do deus hindu Hanuman como premissa, mas o como ele trabalhou essa história em si. Denota não apenas uma conexão com um elemento tão caro à cultura indiana em si, mas como pode haver gente sincera por trás da religião, que entende a religião como um dos possíveis elementos promotores de um bem para as pessoas e não para usos escusos.

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Aliás, a crítica a religiosidade vazia e desonesta é algo bem presente e marcante no filme, notadamente na figura do tal guru. Ele é, no fundo, o grande vilão da história. Valendo-se do discurso da pessoa que veio de uma condição social precária e difícil, mas que conseguiu chegar a uma condição melhor e também de uma suposta espiritualidade transcendental, ele adentra nos corações e mentes, ganhando apoio para si e para aqueles que vão servir aos seus interesses nos mais diferentes âmbitos da sociedade. É a figura do falso guru, que arrota santidade da boca para fora, no público, mas que por baixo dos panos é agente das mais vergonhosas atrocidades.

Um ponto muito interessante nessa direção de Patel é como ele sutilmente introduz no decorrer da narrativa críticas a uma série de questões complicadas e espinhosas existentes na Índia, como as profundas desigualdades sociais, os ataques às pessoas trans e outras minorias, a islamofobia e intolerância religiosa no país, a questão da luta por terras.

Outro fato que não passou despercebido foi a crítica ao governo indiano, representado figurativamente na obra pela ascensão de um político conservador, que está concorrendo às eleições, e não parece efetivamente dispostos a minimizar os sofrimentos das minorias e nem resolver com mais afinco certas problemáticas de direitos humanos e afins.

Uma das coisas mais incríveis e interessantes em Monkey Man é a presença das hijras e o papel que elas cumprem ali na narrativa. Kid (o personagem de Patel), após uma primeira e fracassada tentativa de vingança, onde quase morre, é acolhido e cuidado por um hijra. Procurado pela polícia em toda a cidade, ele está seguro ali por uma razão: as autoridades marginalizam essa fatia da sociedade, as invisibiliza. Esse abandono social acaba servindo para Kid ter o tempo e um espaço seguro para se preparar melhor para o seu propósito.

Na sociedade hindu, as hijras são pessoas transgênero que se identificam com o gênero feminino e que são conhecidas como o terceiro gênero na Índia. A existência delas é retratada há muitos séculos nos livros sagrados do hinduísmo. Apesar de terem um certo respeito e não serem frequentemente agredidas pelo fato de serem consideradas sagradas, elas são marginalizadas na sociedade.

Em Monkey Man, mais do que colocar as hijras como pessoas que acolheram outra pessoa igualmente marginalizada, Patel as validou não apenas como autoridade religiosa, mas também como figura materna; ela representa para Kid a sabedoria e a guia, alguém que ele realmente confia, algo que não havia feito com ninguém na narrativa até aquele momento.

Aliás, as hijras estão mais uma vez presentes em uma das cenas mais interessantes e eletrizantes da obra, que é quando Kid (Patel) volta ao estabelecimento vip para concluir sua vingança e, quando está cercado por uma quantidade de capangas maior do que conseguiria lidar, chega um verdadeiro “exército” de hijras, que entram para ajudá-lo nesse combate também. Espetacular a ação e presença delas nessa sequência e ponto para o Patel, por mais uma vez inserir um elemento diversificado dentro da narrativa, evidenciando toda a potência que as hijras são.

Sensacional também, ao mesmo tempo que foi divertido, foi o personagem de Patel usar um tuk tuk para a fuga, ao invés de um carro convencional. Foi uma forma de inserir um pouco de diversão e ao mesmo tempo valorizar aspectos da sociedade e cultura indiana.

Os 3 únicos pontos que mereciam um pouco mais de atenção e poderiam ser melhor explorados são a primeira patroa de Kid, que é uma figura feminina forte e tem alguma relevância ali, portanto seria interessante entender o contexto dela, como ela chegou ali; explicar melhor quem são as hijras, pois não são tão conhecidas para quem está habituado a assuntar elementos da cultura indiana e falar melhor delas ajudaria a entender a importância das mesmas e, por fim, ampliasse um pouco mais o debate sobre a política e suas conexões com a religião.

No mais, Monkey Man é um filme que vale a pena ser visto e prende do começo ao fim, com suas ações eletrizantes, mas sem deixar de lado importantes críticas sociais.

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Redatora web há 7 anos. Faço parte da equipe de redação do Cinemarte, escrevendo reviews das séries e filmes que assisto!

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